SEQUENCIAMENTO DE EXOMAS NA MEDICINA DIAGNÓSTICA
  Publicado em 16/07/2021
Em casos de doenças genéticas é muito importante a identificação das variantes que causam a patologia para a orientação das decisões clínicas. No entanto, esse diagnóstico pode ser desafiador por diversos motivos, entre eles o fato de muitos pacientes apresentarem sintomas não específicos e mais de um diagnóstico genético, e de existirem mais de 5200 doenças genéticas para as quais às bases moleculares já foram estabelecidas1. O desenvolvimento das técnicas de next-generation sequencing (NGS), que permitem uma análise ampla do genoma do paciente, foram um grande avanço na medicina diagnóstica no que diz respeito à detecção de variantes genéticas causadoras de doenças2.
O sequenciamento do genoma ou exoma tem sido extensivamente usado para a detecção de variantes causais em casos de epilepsia, doenças cardiovasculares congènitas, malformação cerebral, deficièncias de neurodesenvolvimento, entre outras. A identificação das bases moleculares da doença podem permitir um tratamento direcionado, a antecipação de necessidades médicas, e evitar intervenções desnecessárias3. Além disso, essa técnica também é aplicada na área da farmacogenética para identificar variações na resposta à medicamentos, e em diversos ramos da pesquisa básica e clínica.
Porque sequenciar o exoma?
O nosso DNA é composto por 3 bilhões de pares de bases nitrogenadas das quais somente cerca de 1-2% compõem o exoma, que são as regiões que codificam proteínas. Embora os outros ~98% incluam regiões com funções regulatórias que podem afetar à saúde do indivíduo, aproximadamente 85% das mutações que causam doenças mendelianas ou quase-mendelianas encontram-se na parte codificante do genoma4. Por isso, apesar do valor do sequenciamento de um genoma completo ter diminuído consideravelmente nas últimas décadas, esse custo parece ter se estabilizado5, e o sequenciamento do exoma ainda representa um melhor custo benefício para a detecção dessas variantes, e é uma ferramenta valiosa que permite diagnóstico em 25-58% dos casos de suspeita de desordem genética2.
Como é feito o diagnóstico?
O primeiro passo é à coleta de material biológico do paciente, como sangue ou saliva, para que seja feita a extração do DNA para o sequenciamento. No final dessa etapa são gerados arquivos com informações das sequèncias genéticas do paciente que vão passar por um rígido controle de qualidade para garantir que os resultados são precisos e confiáveis. O próximo passo é identificar todas as variações presentes nesse exoma e fazer a anotação dessas variantes, que consiste em recolher informações sobre elas em diversos bancos de dados, como por exemplo os possíveis efeitos para a função da proteína, frequèncias populacionais, e doenças associadas. Com essas informações, e considerando também as condições que levaram a indicação clínica para o teste, é possível fazer uma filtragem e classificar aquelas variantes que tèm maior chance de serem patogènicas, para então ter uma indicação de quais podem estar causando a doença4;6.
Em média, são encontradas cerca de 22.000 variantes no exoma de um indivíduo7. Esse grande número, somado à enorme quantidade de informações que devem ser consideradas para o diagnóstico, tornam esse processo muito complexo e de difícil padronização entre diferentes laboratórios e centros de pesquisa. Para contornar esse problema, o Colégio Americano de Genética Médica e Genôemica (ACMG - American College of Medical Genetics and Genomics) convocou um grupo de especialistas para elaborar os padrões e diretrizes para a interpretação clínica de variantes de sequenciamento8. Embora esse guia seja um ótimo ponto de partida, a padronização das análises ainda é um desafio, e para auxiliar nesse processo tèm sido desenvolvidos muitos softwares para a aplicação dos critérios do guia de forma automatizada que facilitam um diagnóstico mais preciso.
Referências
- Clark, M. M. et al. Meta-analysis of the diagnostic and clinical utility of genome and exome sequencing and chromosomal microarray in children with suspected genetic diseases. NPJ Genom Med 3, 16 (2018).
- Fung, J. L. F. et al. A three-year follow-up study evaluating clinical utility of exome sequencing and diagnostic potential of reanalysis. NPJ Genom Med 5, 37 (2020).
- Retterer, K. et al. Clinical application of whole-exome sequencing across clinical indications. Genet. Med. 18, 696-704 (2016).
- Seaby, E. G., Pengelly, R. J. & Ennis, S. Exome sequencing explained: a practical guide to its clinical application. Brief. Funct. Genomics 15, 374-384 (2016).
- McGuire, A. L. et al. The road ahead in genetics and genomics. Nat. Rev. Genet. 21, 581-596 (2020).
- Marshall, C. R. et al. Best practices for the analytical validation of clinical whole-genome sequencing intended for the diagnosis of germline disease. npj Genomic Medicine vol. 5 (2020).
- Taliun, D. et al. Sequencing of 53,831 diverse genomes from the NHLBI TOPMed Program. Nature 590, 290-299 (2021).
- Richards, S. et al. Standards and guidelines for the interpretation of sequence variants: a joint consensus recommendation of the American College of Medical Genetics and Genomics and the Association for Molecular Pathology. Genet. Med. 17, 405-424 (2015).
 Texto escrito por:
- ISABELA ALVIM, PhD (LDGH-UFMG)
- Bióloga, Mestre e Doutora em Genética.